27.5.06

O elástico

O que é relevante nesta história é a constatação de que o tempo é elástico. Em 1976, cinco depois de o álbum ter sido lançado, comprei Songs For Beginners, de Graham Nash. O disco continha o hit-single pacifista intitulado Chicago e, ainda, outras canções que tinham ficado gravadas na minha memória durante as festas de início dos anos 70. Sleep Song e Simple Man eram momentos a não falhar quando estava em causa fazer avanços junto dos elementos do sexo oposto.
Anos depois, um grupo de amigos tinha o bom hábito de mostrar as mais recentes aquisições. Onerosas, quando em forma de LP, ou gratuitas, quando surigiam por via de cassetes gravadas a partir de discos emprestados. Num qualquer fim-de-semana, coloquei o álbum de Nash no gira-discos. O entusismo da plateia não foi grande. Porquê? Bom, reconheciam-se qualidades às canções do velho herói do country-rock mas a questão principal era que Songs For Beginners era uma obra "antiga". Fantástico. Na adolescência, algo com cinco anos de idade já era qualificado como uma espécie de relíquia, cujos sons se mostravam tão distantes como se em audição estivesse um disco dos anos 20 ou 30.
Lembro-me de me ter sentido um pouco frustrado. Para mim, a música não tinha idade. Um dos prazeres dessa época estava em vasculhar o espólio de gente mais velha, mas não muito mais velha, onde se podiam encontrar gravações de The Byrds, por exemplo. Songs For Beginners está longe de ser um álbum genial e Graham Nash, na minha opinião, era o mais fracote dos elementos dos lendários Crosby, Stills, Nash & Young. Sucede, apenas, que há uns dias fiz uma playlist em que, entre coisas "antigas" e mais recentes, se misturava uma das canções daquele disco. Como entre os mais recentes se contavam temas editados há pouco mais de cinco ou dez anos, mas que para mim continuam a soar como novos, suscita-se a questão: a música de Nash que classificação mereceria agora? Pré-histórica? E os primeiros álbuns dos U2 são o quê? A invenção da escrita?

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