30.4.06

Fusão a quente

Comecemos por aquele que era o derradeiro tema da edição original de Red Clay, do trompetista Freddie Hubbard. Cold Turkey, uma canção dos primeiros tempos de John Lennon após a separação dos Beatles, ilustra bem os conteúdos deste CD. O hard-bop e o funky abrem o caminho para três grandes improvisadores – Joe Henderson e Herbie Hancock, além de Hubbard – darem largas à imaginação. Em resultado, ficou para a história um álbum que o próprio líder do quinteto considera o seu melhor. Não admira. A música é intensa e o empenho da banda, onde também figuram o contrabaixista Ron Carter e o baterista Lenny White, é elevado. Red Clay surge nos lugares da frente em tudo o que diga respeito a identificar os grandes momentos da fusão que tomou conta do jazz mainstream quando a década de 60 começava a dar lugar à de 70. Além das cinco faixas que já faziam parte da edição original de 1970, a versão “compacta” acrescenta mais uma. E desta vez vale a pena. Trata-se de uma versão ao vivo, prolongada e executada em septeto, do tema-título. São quase 19 minutos de delírio e muito por força do pico de forma em que Hubbard se encontrava por esta altura.

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As peripécias de Gary Higgins

Se os Six Organs of Admittance não tivessem gravado uma versão de Thicker than a Smokey, tema incluido no álbum School of the Flower, de 2005, é muito provável que Gary Higgins tivesse permanecido no esquecimento a que foi votado desde o lançamento de Red Hash, quando decorria o longínquo ano de 1973. Cantor e compositor de música folk, pode dizer-se que Higgins teve uma vida atribulada, fechando as portas a uma carreira que, a avaliar pelo único disco que gravou em toda a vida, se apresentava cheia de promessas. Red Hash, que antes da reedição em CD era disputado por coleccionadores que se dispunham a pagar pequenas exorbitâncias por um dos raros exemplares em vinil disponíveis - na altura do lançamento apenas foram colocadas no mercado três mil cópias -, foi gravado à pressa, em 40 horas, antecedendo o encarceramento de Higgins, durante 13 meses, para cumprir pena por ter sido apanhado a vender marijuana (ler mais aqui). Se os temas que o integram não chegassem para fazer deste álbum um ponto de paragem incontornável para quem aprecie música folk, todas estas peripécias, só por si, fariam de Red Hash um disco muito especial.

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O amigo de Nick Drake

John Martyn tem uma extensa discografia mas a sua fama nunca passou de um círculo mais ou menos restrito de admiradores. A sua carreira foi intermitente em termos de produção e de qualidade mas tem no currículo álbuns a que a passagem do tempo não fez qualquer mossa. Pelo contrário. Tal como sucede com os bons vinhos, discos como Solid Air até ganham interesse à medida que a distância em relação à sua data de edição vai aumentando. Lançado em 1973, este álbum inclui bons exemplos da fusão de folk e blues que fizeram o terreno em que Martyn melhor se moveu. A canção que dá o título ao disco é dedicada ao seu amigo Nick Drake, fonte de inspiração para temas como Over the Hill. Um dos momentos altos é May You Never, aqui na sua versão original, anos antes de ter sido gravada e transformada por Eric Clapton num pequeno êxito pop, pouco mais do que anódino. É por causa de discos como este que os anos 70, a começar pela sua primeira metade, são, ao contrário do que por vezes se ouve e lê, uma das épocas mais ricas e produtivas da história da música popular do século XX. É preciso é procurar por debaixo da superfície, onde se podem encontrar músicos como John Martyn.

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29.4.06

Uma tarde preguiçosa, parte III

Talvez não exagere se disser que Josh Rouse deve ser, hoje em dia, o mais eficaz compositor de temas pop. É capaz de reinventar aquilo que já foi tentado milhares de vezes mas que só alguns conseguem fazer soar como novidade. Quando se esperava que Rouse teria já esgotado o filão da simplicidade melódica, eis que chega com um novo disco apostado em desfazer dúvidas sobre a solidez da sua inspiração. Estou a falar de Subtítulo e de como este álbum está recheado de temas cuidadosamente construidos, mas dispensando arranjos elaborados. É um genuino disco de pop. Escusado seria acrescentar que é, também, extremamente aprazível...

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Uma tarde preguiçosa, parte II

Acho que não será necessário estabelecer um regime de quotas para ajudar o género feminino a ir tomando conta de uma fatia crescente da boa música que vai sendo produzida. Chan Marshall, que se esconde por detrás do nome Cat Power, é uma das provas que posso alegar em favor desta tese. The Greatest, álbum que, ao contrário do que poderia sugerir o título, não é uma colectânea - coisa que salvo raras excepcões costumo abominar - é a sua gravação mais recente. Menos angulosa e sombria do que em anteriores registos, mas mantendo a tendência para a melancolia, Chan Marshall regressa com uma dúzia de belas canções. A voz, clara e segura, está melhor do que nunca. Mais uma peça essencial para uma tarde preguiçosa... e aprazível.

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Uma tarde preguiçosa

Para uma tarde preguiçosa, dividida entre a leitura de jornais e uma passagem pelas brasas, há que escolher uma banda sonora a condizer. O cruzamento de folk e country dos Mojave 3 foi hoje uma das soluções prestáveis, através de Spoon and Rafter. Não há neste disco grandes surpresas. Apenas canções macias assentes no poder das guitarras acústicas. Insinuam-se mas não se impõem e prestigiam as tradições. Como diria um amigo meu, é um disco aprazível.

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Da Ásia, com muita alegria

Há discos que logo às primeiras notas transmitem uma atmosfera de alegria, optimismo e bem estar. Cativam pela qualidade dos temas e de quem os interpreta. Quando semelhante feito é alcançado por alguém que acaba de assinar o seu álbum de estreia, o factor surpresa complementa o sentimento de deslumbre que se vai consolidando à medida que o leitor de CD cumpre a sua função. Inclui-se neste grupo de gravações o disco de estreia da pianista coreana Min Rager. Bright Road, com que tropecei por mero acaso numa loja, é um álbum precioso. Trata-se de jazz mainstream tocado por um quinteto de grande talento e dotado de um irresistível swing. Os temas são todos originais criados por Rager. Decorem este nome porque estou desconfiado que, a avaliar pelo que se ouve em Bright Road, Min Rager é um valor de elevada rendibilidade e baixo risco, ou seja, uma aposta com futuro.

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20.4.06

Um reencontro assinalável

Já anda há uns tempos pelas lojas a nova versão - remasterizada - de My Life in the Bush of Ghosts. E, como quem espera sempre alcança, um exemplar deste disco de Brian Eno e David Byrne também já figura nas prateleiras cá de casa. Para fazer deste reencontro um evento assinalável deve sublinhar-se que esta é uma das obras mais marcantes e originais do início dos anos 80. Depois, deve referir-se que este é um daqueles casos em que os temas extra, gravados na altura mas não editados no vinil por falta de espaço, não são apenas uma artimanha para atrair fanáticos. Vale a pena escutá-los depois de estar esgotado o alinhamento original. Segue-se que o material das 24 pistas utilizadas no registo de duas das faixas está disponível para download gratuito por parte de quem queira fazer as suas próprias misturas, o que não deixa de ser uma iniciativa com graça. Por fim, este álbum é daqueles que não cansa porque, sendo minimalista nas aparências, tem sempre mais alguma coisa para descobrir.

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15.4.06

O despertador

Tenho um vizinho novo que gosta de música. Também gosta de mostrar a quem mora nas cercanias quais as suas bandas favoritas. Ou melhor, qual a sua banda favorita. Ao sábado de manhã, poucos minutos após terem soado as dez horas no relógio de pêndulo com que o inquilino de cima me há-de conduzir ao manicómio, começa o concerto. Com a aparelhagem de goelas bem abertas. No sábado passado, o meu merecido descanso foi interrompido pelos Yes. O sucedâneo do meu despertador, a que vulgarmente se chama telemóvel, foi um álbum menor mas que tem a abrir um riff que se transformou num êxito. Sim, estou a falar de Owner of a Lonely Heart.
Hoje, a cena repetiu-se, embora com uma alteração. A banda foi a mesma mas o álbum pertence à era ante-new wave, quando o rock progressivo era respeitável. Pensava que ainda poderia gozar mais uma hora de preguiça entre os lençóis mas o lado 1 de Tales From Topographic Oceans veio tirar-me o sono. Para quem não saiba, o duplo-vinil original apenas tinha quatro temas, tantos quantas as faces dos dois discos. Isto é, um em cada lado (até parece mentira...). Fiquei acordado, a escutar, mas fui alimentando o desejo de vingança. Acabei por saltar da cama para lhe pregar com Waka/Jawaka, do grande Frank Zappa. Com o volume esganado, obviamente. Agora, ou ele desiste de ouvir Yes pela manhã ou somos ambos expulsos do prédio. A terceira possibilidade é a de os vizinhos todos ficarem a conhecer, nas próximas semanas, a discografia completa do Zappa. Pode ser que o pêndulo se avarie. Sempre é preferível ter os Yes pela fresquinha.

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2.4.06

Separados à nascença?




1.4.06

Separados à nascença?

Separados à nascença?

Separados à nascença?

Separados à nascença?

Separados à nascença?

Separados à nascença?