
Tenho um vizinho novo que gosta de música. Também gosta de mostrar a quem mora nas cercanias quais as suas bandas favoritas. Ou melhor, qual a sua banda favorita. Ao sábado de manhã, poucos minutos após terem soado as dez horas no relógio de pêndulo com que o inquilino de cima me há-de conduzir ao manicómio, começa o concerto. Com a aparelhagem de goelas bem abertas. No sábado passado, o meu merecido descanso foi interrompido pelos Yes. O sucedâneo do meu despertador, a que vulgarmente se chama telemóvel, foi um álbum menor mas que tem a abrir um riff que se transformou num êxito. Sim, estou a falar de
Owner of a Lonely Heart.
Hoje, a cena repetiu-se, embora com uma alteração. A banda foi a mesma mas o álbum pertence à era ante-new wave, quando o rock progressivo era respeitável. Pensava que ainda poderia gozar mais uma hora de preguiça entre os lençóis mas o lado 1 de
Tales From Topographic Oceans veio tirar-me o sono. Para quem não saiba, o duplo-vinil original apenas tinha quatro temas, tantos quantas as faces dos dois discos. Isto é, um em cada lado (até parece mentira...). Fiquei acordado, a escutar, mas fui alimentando o desejo de vingança. Acabei por saltar da cama para lhe pregar com
Waka/Jawaka, do grande Frank Zappa. Com o volume esganado, obviamente. Agora, ou ele desiste de ouvir Yes pela manhã ou somos ambos expulsos do prédio. A terceira possibilidade é a de os vizinhos todos ficarem a conhecer, nas próximas semanas, a discografia completa do Zappa. Pode ser que o pêndulo se avarie. Sempre é preferível ter os Yes pela fresquinha.
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