De Havana a Praga
O primeiro pormenor em que se repara é a capa. Uma bela rapariga, num vestido vermelho forte, olha-nos com um semblante determinado e desafiador enquanto mantém a sua mão firmemente apoiada sobre um copo onde está encarcerado um insecto exótico. Não é caso único capaz de ilustrar o cuidado que a etiqueta Mole coloca no trabalho gráfico que ajuda os seus discos a darem nas vistas, entre os milhares de CD que enchem os escaparates. O truque resulta. Foi por causa da sua excelente capa que agarrei em “Nice Traps”, da banda checa Khoiba, com a curiosidade bem acesa para descobrir que música se poderia encontrar lá dentro. E posso agora afirmar, com conhecimento de causa, que estamos perante uma situação em que o conteúdo é pelo menos tão bom quanto o embrulho.
Os Khoiba executam uma pop que vagueia pelos terrenos da electrónica, largamente condimentada com instrumentos “tradicionais”. As suas canções evocam algumas características da música de Björk, nos tempos em que esta dava os primeiros passos na carreira a solo, e quem desconfie então que escute os temas “Feedback” e “Terribly”. Dizer que estamos perante um fenómeno de mimetismo em relação à obra da célebre islandesa seria, no entanto, uma despropositada barbaridade. E o mesmo se poderia dizer se, numa análise apressada, se catalogassem os Khoiba como uns Portishead menos depressivos, tentação que pode surgir com a audição de “Facilities” ou de “The Deepest Nightmare”. A banda tem uma personalidade própria e enormes talentos.
Deste trio oriundo de Praga sobressai a qualidade das composições e a voz serena de Ema Brabcova. Não há temas menos interessantes no álbum e o "slogan" da Mole, que anuncia “listening pearls” por cada edição que lança no mercado, aplica-se aqui como uma luva. Até agora, Khoiba apenas me soava como uma marca de óptimos charutos havanos. Mas passa a identificar uma banda a não perder de vista, por nada neste mundo. Agora dêem-me licença porque vai começar a tocar “Sonic Parts” e eu não quero perder pitada. Sobretudo porque se segue “T.I.M.E.” que abre com um Fender Rhodes que vibra como uns delicados sininhos infantis.
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