“Somewhere”, Bill Charlap
Para quem tenha o hábito de, uma vez por outra, fazer uma visita a este blog, a confissão que se segue não terá nada de novo. No que respeita ao jazz, aqui no AiFai existe uma especial predilecção pelo trio de piano. De Sonny Clark a McCoy Tyner, de Red Garland a Brad Mehldau, de Keith Jarrett a Jason Moran, de Bill Evans a Mulgrew Miller, passando por muitos outros magos das teclas que gravam – ou gravaram – discos que se apoiam unicamente na secção rítmica que serve de base de sustentação a qualquer banda clássica, o formato integrado por piano, contrabaixo e bateria é capaz de fazer as delícias dos nossos ouvidos. Daí que cada nova descoberta seja motivo de regozijo.
Foi o caso do mais recente registo em CD do trio liderado por Bill Charlap. Sucessor de “Stardust” no que se refere a edições efectuadas sob o selo da Blue Note, o novo lançamento intitula-se “Somewhere” e é dedicado à música do compositor Leonard Bernstein, responsável por obras como “West Side Story”, circunstância que é evocada no excelente trabalho gráfico que resguarda o disco. O recurso aos “standards” é uma arma de dois gumes. O facto de se tratar de temas que já foram esmiuçados e recriados por centenas de músicos em milhares de discos nem sempre é um factor de entusiasmo. À partida, há que combater o sentimento de que o que se vai escutar é apenas “mais do mesmo”.
Charlap e os seus companheiros, Peter e Kenny Washington (contrabaixista e baterista, respectivamente), contornam o problema. Não é que o pianista, que já tocou com Gerry Mulligan e Phil Woods, se dedique a manobras que o levem muito para fora do “maisnstream” em que se inscreve. Sucede, simplesmente, que Bill Charlap dá boa conta das suas capacidades como instrumentista e revela-se um exímio intérprete, sobretudo em baladas como “Some Other Time” ou “Quiet Girl”. Nos tempos mais acelerados – “Jump” e “Cool” são bons exemplos –, o trio aplica-se no trabalho com energia e os apreciadores da velocidade de execução terão aqui razões para se sentirem satisfeitos. Como se costuma dizer, Charlap tem “swing”. Em caso de dúvida, escute-se “Lucky To Be Me”. Ou "It's Love".
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