Uma peça única
Há álbuns que conquistam pela beleza das suas canções mas, essencialmente, pela atmosfera que inspiram. Ao escutar a música sentimo-nos transportados para um mundo de fantasia com referências dispersas que se situam na fronteira entre o sonho e a realidade. É o que me sucede sempre que carrego no botão “play” do leitor de CD e começo a escutar os sons inicias de “Lovely Head”, o tema de arranque de “Felt Mountain”, a gravação de estreia dos Goldfrapp.
O encanto deste disco está na superior qualidade de cada uma das suas faixas, servidas por arranjos que conjugam violinos com electrónica e outros instrumentos acústicos. E todos estes elementos se harmonizam para criar um ambiente único, intrigante, e que é sublinhado pela irresistível voz de Alison Goldfrapp.
Ao escutar a sequência de nove temas que integram o álbum, um número escasso para a actual capacidade dos CD mas mais do que suficiente para criar uma obra-prima, podemos vaguear entre os cenários de “Música no Coração” e “A Montanha Mágica”, o perturbador romance de Thomas Mann. A fotografia da contracapa faz uma ligação perfeita ao conteúdo da gravação, bastando fazer a experiência com o tema que fornece o título ao álbum. Tal como sucede com a audição da música, é impossível não se sentir a inquietação transmitida por uma solitária figura humana reduzida à sua frágil condição perante a majestade da montanha que surge perante si.
É uma pena que Alison Golfrapp se tenha cansado do sossego dos concertos que efectuou para proceder à promoção deste primeiro CD, optando por terrenos mais explorados e menos subtis no sucessor de “Felt Mountain”. Ou talvez assim até tenha sido melhor porque as peças únicas têm mais valor.
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