3.8.04

Mehldau, Simon e Garfunkel

Li no “Diário de Notícias” de ontem que Brad Mehldau, que se apresentou em Lisboa, na Aula Magna, na passada sexta-feira à noite para um concerto a solo, interpretou o tema “The Only Living Boy in New York”, de Paul Simon. Eu dispunha já de diversas razões para lamentar não ter podido assistir à prestação deste músico. Acima de qualquer outro motivo, porque se trata de um dos meus pianistas favoritos, integrando-se naquele exclusivo grupo de executantes de quem compro os respectivos discos sem sequer me dar ao incómodo de os escutar previamente.
A delicadeza e profundidade de Brad Mehldau, comparáveis ao que foram as marcas fortes legadas por Bill Evans como uma das mais ricas heranças das anteriores gerações do jazz, são apenas dois dos motivos de sedução na sua obra. Igualmente estimulante é o facto de Mehldau não se resumir à interpretação dos velhos “standards” do cancioneiro norte-americano que, nos dias de hoje, raramente são uma via para causar surpresa nos melómanos, se excluirmos a exuberância contagiante com que Keith Jarrett lhes dá a volta.
O pianista é, simultaneamente, um compositor de mão cheia, como se pode constatar através do álbum “Places”. E, ao longo da sua carreira, tem recorrido ao universo da pop como fonte de inspiração para as suas improvisações. Dessa busca de melodias que estão fora das tradições do “mainstream”, já resultaram homenagens aos Radiohead, Beatles e Nick Drake através de novas versões de canções compostas por estes nomes incontornáveis da história da música popular.
“The Only Living Boy in New York”, incluído no álbum “Bridge Over Troubled Water”, é um dos meus temas preferidos, não só de toda a discografia dos Simon and Garfunkel, mas também de entre o vasto repertório da pop, sobretudo do que preencheu a minha adolescência. Daí que, depois de ter falhado a sua interpretação durante o concerto na Aula Magna, me reste a esperança de que Brad Mehldau venha a incluir a canção num dos seus próximos registos em CD.