10.8.04

Bendita tecnologia

Os "posts" são como as cerejas. Atrás de uns vêm os outros. Depois de um jantar de mariscada com vista para a praia do Guincho, regressei a casa com vontade de ver e ouvir alguns temas que integram "The Last Waltz", versão DVD.
Dr. John e o seu brilhante fatinho de cerimónia, rematado com um lacinho cor-de-rosa capaz de competir com os velhos tempos do Miguel Esteves Cardoso. Ronnie Hawkins vestido à 'cowboy' de um bar decadente das profundezas da América. Neil Young de olhos vidrados a entrar no palco com o ar de quem não sabe exactamente onde está. Muddy Waters impondo a sua autoridade natural entre bons aprendizes dos "blues". Eric Clapton, já recuperado da espiral da heroina, manuseando a guitarra como um mestre imperturbável. E Joni Mitchel, no meio daquele mundo de machos, com a sua voz cristalina dando vida a uma canção de arrepiar a pele.
Depois de o filme ter estreado nos cinemas portugueses, no final dos anos 70, paguei bilhete para o ver mais de seis vezes. Para ser minimamente rigoroso devem ter sido mais de dez. Minimamente, sublinhe-se. Nessa altura, Portugal era uma inexistência para as digressões das bandas de grande, pequena ou média dimensão. Chegavam cá os discos, com horríveis prensagens "made in Portugal", e já era um pau. Porque as importações estavam limitadas pela necessidade de reequilibrar a balança de transacções correntes. Tempos complicados.
Felizmente, o país e o Mundo mudaram muito. De tal maneira que um dos prazeres que hoje em dia posso oferecer a um dos meus melhores amigos, um fanático para quem o Universo terminou nos anos 60 - e não estou a exagerar -, é a revisão da matéria dada através de "The Last Waltz", em DVD. Enquanto a ilustre personagem se deixa absorver pela magia que vai saltando da televisão e da aparelhagem de som, sempre se faz um intervalo nas intermináveis e inconclusivas discussões sobre a actualidade política lusitana. Bendita tecnologia.

1 Comments:

At 9:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Estou a ver que o autor deste blog deve ser contemporâneo meu. As experiências são muito semelhantes. Eu só fui ver uma vez, dada a escassez monetária reinante na altura.

Mário
http://www.retorta.net

 

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