Os puristas mais radicais vão ficar ofendidos, porque acham que a música "erudita" é um terreno demasiado sério para ser confundido com música ambiente ou "chill-out". Mas como não quero desiludir o paul, que num "post" anterior deixou um recado para que eu desse algumas sugestões sobre "clássica" para ouvir enquanto se trabalha, decidi meter-me ao trabalho.
As peças que ficam aqui mencionadas não pretendem ser uma lista exaustiva. Trata-se apenas de algumas indicações, feitas de memória, mas que estou convencido que servem o propósito de criar uma atmosfera que não perturbe a concentração de quem se aplica na tarefa de ganhar a vida. São peças menores? Nem por sombras. Merecem uma audição atenta durante os períodos de lazer e acontece apenas, por coincidência, que podem ser escutadas sem perigo de interferências indesejadas, por quem tem o privilégio de trabalhar acompanhado por boa música.
- Vivaldi - À força de tanto serem utilizados nos mais diversos suportes, incluindo centrais telefónicas e anúncios a aparelhos de ar condicionado, os concertos para violino conhecidos como "As Quatro Estações" ficam de fora desta lista. Em alternativa sugere-se o "L'Estro Armonico". Pode ser a versão do English Concert, dirigido por Trevor Pinnock. Os seis concertos para flauta do mesmo compositor também são uma alternativa. E, para não variar, também neste caso pode optar-se pelo CD liderado por aquele maestro britânico. Ambos os discos estão editados pela Archiv.
- Telemann - A "Tafelmusik" é uma das obras-primas deste compositor alemão que em vida era mais famoso que J.S. Bach. Inclui um pouco de tudo, desde aberturas orquestrais a quartetos, trios e concertos. Pessoalmente, prefiro a versão da Musica Antiqua Köln, sob a direcção do violinista Reinhard Goebel (Archiv). Mas quem optar pela interpretação de Nikolaus Harnoncourt, com a Concentus Musicus Wien (Teldec), também irá muito bem servido. Uma vantagem não negligenciável é o facto de a obra integral abranger quatro discos, o que evita interromper frequentemente o cumprimento das obrigações para ir à procura de outra gravação. Tempo é dinheiro...
- Boismortier - Embora raramente seja citado entre os compositores mais importantes do período barroco, Boismortier tem algumas obras com interesse. Há um excelente disco de sonatas para duas flautas transversais sem acompanhamento que se ajusta plenamente aos objectivos em apreço. Foi gravado em 2001 por Stéphane Perreau e Benjamin Gaspon e está editado pela Disques Pierre Verany.
- Boyce - Outro ilustre desconhecido. As oito sinfonias que compôs estão disponíveis pelos menos em duas versões. Como desconheço a que foi gravada por Trevor Pinnock, aconselho a de Christopher Hogwood com a Academy of Ancient Music. A interpretação é tão suave que certamente ninguém irá atrever-se a alegar não ter conseguido completar, dentro dos prazos, aquele extenso relatório com que se queimaram as pestanas durante semanas a fio. Quem estiver interessado, pode encontrar o disco em causa no catálogo da Decca/L'Oiseau-Lyre.
- Albinoni - Famoso por uma composição, o "Adagio", de que não foi autor, Albinoni é sinónimo de música de fácil apreensão, mesmo pelos padrões do barroco que estão longe de se poderem considerar difíceis para o ouvido menos treinado. Entre outras hipóteses, citam-se três discos de concertos para cordas e oboé que foram editados pela Chaconne. A orquestra é a Collegium Musicum 90 e o líder é o violinista Simon Standage.
- Marais - As peças para viola de gamba deste compositor francês estão na origem da fama e prestígio alcançados pelo mestre catalão Jordi Savall. Sobretudo após a banda sonora do filme "Tous Les Matins Du Monde" ter promovido junto de um público mais vasto algumas dessas gravações. Sendo uma hipótese a não desprezar, estas obras têm um sucedâneo à altura da missão que se exige nas seis suites registadas pelo Quadro Hottetterre. Trata-se de um duplo CD, editado pela Teldec.
Há muito mais material disponível e a merecer ser citado. Mas estes discos já garantem muitas horas de trabalho. Mesmo para quem, por estar empregado em empresas altamente exigentes e competitivas, se veja na contingência de ter de "vergar a mola" ao fim-de-semana.